Ouvi falar de poder pessoal há muitos anos
enquanto procurava uma solução para o amor num livro de Wayne Dyer. O meu foco era outro, procurava desalmadamente uma solução para a minha próxima relação, uma solução exterior para o amor.
Naquele livro eu li uma frase que nunca mais me esqueci: “O segredo não é correr atrás das borboletas... É cuidar do jardim para que elas venham até nós”.
Mas eu não estava a perceber a mensagem. Melhor, eu compreendi-a, mas não lhe sentia o sabor. Recentemente voltei-me a cruzar com a mesma frase num livro do Manuel Clemente, e senti-a de forma diferente.
Hoje, eu sei que o nosso poder pessoal, o autocuidado e autenticidade são os elementos-chave de um “jardim” bem cuidado.
Quando pararmos, confrontamo-nos com um vazio profundo dentro de nós. É preferível continuar em piloto automático, acumulando tarefas que nos cobrem a visão da dor que temos cá dentro. Cuidar do nosso jardim implica parar e observar o vazio. Avançar lentamente, detetar as ervas daninhas, observar as plantas mortas, as flores que já não dão fruto, permitindo-nos vivenciar todas as emoções que emergem no nosso interior. Há quanto tempo não visitas o teu jardim? Dói muito, eu sei. Foram anos de autoabandono. É necessário voltar lá várias vezes. O autocuidado nasce aqui, quando cuidamos de nós como se cuidássemos de alguém que depende de nós (já dizia Jordan Peterson). Ao darmos esse passo, assumimos a responsabilidade pela nossa própria vida, recuperamos o controlo e, acima de tudo, ganhamos poder sobre os nossos desafios e sucessos pessoais.
Ao não cuidarmos das nossas feridas, optamos por ignorá-las e fingir que não existem. Hoje em dia, é muito fácil distrairmo-nos das nossas próprias dores. Quando alguém inadvertidamente nos magoa, tendemos a culpá-lo pela dor que sentimos. Mas a dor já lá estava. A responsabilidade é nossa.
O poder pessoal é um resultado direto deste autocuidado. Fortalece-se quando reservamos tempo para nos conectarmos com a nossa dimensão interior. Ao reconhecermos os problemas que criamos e quando tomamos medidas para resolvê-los, assumimos a responsabilidade pela nossa vida e por todas as suas circunstâncias. Ao compreendermos isto, desenvolvemos uma visão clara da nossa identidade, dos nossos objetivos e das pessoas que queremos ao nosso lado. Passamos a ser mais seletivos em relação à nossa vida e valorizamos cada aspeto dela.